Como lidar com conflitos na indústria de alimentos?

Estamos assistindo, quase que ao vivo e em tempo real, um grave confronto entre dois países europeus. Longe de mim querer dar alguma opinião sobre o que está acontecendo ali. Mas diante deste evento, não pude deixar de traçar paralelos com algo corriqueiro que ocorre dentro das indústrias: Os conflitos.

Guardadas as devidas proporções, praticamente todos os dias as pessoas se estranham dentro das empresas. Seja pelo aumento da carga de trabalho, falta de comunicação, erros operacionais ou até mesmo picuinhas pessoais. Os motivos são diversos.

O grande ponto deste artigo não é incentivar à guerra, ou mostrar uma maneira correta de guerrear. É justamente o contrário. A invasão da Rússia na Ucrânia (Esperamos que fique apenas nisso) nos mostra exatamente o porque conflitos devem ser evitados a todo custo, seja entre países ou entre as pessoas da indústria.

Conflitos na indústria

O que são conflitos em uma empresa?

Primeiramente, temos que definir o que são conflitos em nosso ramo. Eles podem ser entendidos como um desvio no comportamento, motivação ou foco de uma pessoa ao realizar sua atividade dentro do processo.

Parece ser uma definição ampla, e é mesmo. São exemplos de conflitos as disputas de interesses entre setores, discussões acaloradas entre colaboradores, polêmicas criadas por decisões tomadas e claro, o famoso “dedo na cara“.

Contudo, é importante deixar claro que nem toda troca de palavras mais duras significa um desentendimento. Da mesma forma, podem existir conflitos muito sérios em palavras respeitosas e cordiais. Não é preciso ser algo explicito.

Por isso cito que um conflito é um desvio. Se a pessoa trabalha não para alcançar seu melhor resultado, mas sim para ferrar com o coleguinha, aí existe um conflito. Embora possa estar dando resultados momentâneos para a empresa, o objetivo da ação não é o correto.

Não tem a ver com levantar a voz, ou xingar o amigo, mas sim com o ruído gerado: Ambientes hostis, falta de confiança e medo de opinar. As consequências, cedo ou tarde, são ruins tanto para a organização quanto para nós mesmos.

“Ninguém vai ganhar ou perder.”

“Todo mundo vai perder.” Parafraseando nossa ilustríssima ex-presidente Dilma, está é uma boa frase para a guerra que está acontecendo. Divergências de opinião e objetivos são naturais. O problema está na forma de resolvê-los.

Independente dos motivos desta guerra ou de quem sairá vencedor, todos já perderam. O custo desta invasão em dinheiro e em vidas é alto demais para os resultados práticos que serão alcançados.

Na indústria não é diferente neste sentido. Um conflito sempre vai custar caro, mas é mais difícil de medir.

O primeiro recurso desperdiçado em uma briga é o tempo. Gritar, teimar ou insubordinar não faz nada além de gastar tempo sem resolver o problema. Todo conflito gera uma distração e desvia o foco do que realmente importa.

E nos conflitos, o foco é o que mais penaliza a eficiência de uma empresa. O mais clássico é aquele Produção x Qualidade. A produção foca apenas em produzir o máximo possível. A qualidade foca em um nível de conformidade ideal. Quem sofre? A empresa que não consegue vender os produtos despadronizados num custo acessível.

Se a empresa não vende, todos perdem.

Em uma guerra é fácil avaliar os danos. Dá para ver as ruinas de uma cidade bombardeada. Na fábrica nem sempre é possível entender os prejuízos causados por conflitos.

E quando conseguimos ver os efeitos colaterais, quase sempre colocamos a culpa em outros fatores.

O primeiro sintoma de um ambiente conflituoso é a desmotivação. Pessoas precisam estar motivadas para dar o seu melhor. Do contrário, vão apenas esperar a primeira oportunidade para sair. A desmotivação é o principal motivo da fuga de talentos de uma indústria. E se a empresa não retém talentos, os problemas viram uma bola de neve rumo ao abismo.

A natureza dos conflitos

É importante frisar: Desentendimentos são naturais em uma empresa. Nenhuma pessoa é igual, e suas visões diferentes podem gerar atritos. Isso não quer dizer que os conflitos devam ser normalizados.

Uma coisa é ter situações pontuais que se resolvem sem grandes impactos. Outra coisa é incentivar esta cultura.

Infelizmente, já conheci gestores que não se entendiam, e por conta disso seus subordinados se odiavam. Assim, sem nem se conhecer, apenas carregavam o espirito emanado pelo seu líder (Não parece muito com as guerras entre países?).

Também já conheci “donos” que incentivam o conflito entre os líderes da equipe, para criar um ambiente de competição e assim obter o máximo empenho desses líderes. Embora dê resultado no curto prazo, mina totalmente o senso de trabalho em equipe da empresa com o passar do tempo.

E o que é uma empresa, senão uma grande equipe, não é mesmo?

Não caia nesta. Atue como solucionador. Não permita que seus subordinados se mantenham em um ambiente sem colaboração.

Nos conflitos de outros, não incendeie ainda mais. Eu sei, a gente gosta de uma treta de vez em quando, ainda mais quando parece não respingar na gente. Mas uma hora ou outra, isso volta para nós.

Os prejuízos também são nossos

Podemos ainda pensar que pouco importa ter uma postura assim, afinal o problema é para a empresa. Não há engano maior. Lembre-se que as empresas são feitas de pessoas. Você não briga com a empresa, você briga com o seu colega.

Ao nos envolver constantemente em conflitos, vamos perdendo a conexão com as pessoas. Não apenas aquelas envolvidas, mas todas as outras. Ninguém quer estar perto de um imã de confusão. Podemos perder oportunidades ao longo da carreira por isso.

Oportunidades, inclusive, de conhecer novas pessoas, por pura birra ou preconceito.

Sem falar que se envolver em conflitos tem um peso emocional muito grande. O desgaste em nós é muito alto, o que pode gerar problemas de saúde graves ao longo do tempo.

Por mais que queira dar na cara da pessoa, busque o entendimento. Haja com sabedoria. Ganhar uma discussão as vezes pode significar perder a equipe ou um aliado.

Isso não significa deixar para lá, ok? Vejo pessoas se metendo em enrascadas por serem passivos, apenas para não se indispor com ninguém. Essa postura é tão danosa quanto ser “um encrenqueiro”.

Seja firme, verdadeiro e justo. Evitar um conflito, muitas vezes, não é sobre o que você fala, mas o como você fala. Uma postura educadora ajuda a reduzir danos.

No fim, todos queremos menos guerras e mais paz para o mundo. Lembre-se de que isso começa no nosso próprio dia-a-dia.

Paulo Henrique Rodrigues Júnior
Paulo Henrique Rodrigues Júnior

Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa. Atuo no setor de P&D e Processos na indústria desde 2015.
E desde então vivo um caso de amor pelos Processos Industriais. E quando sobra um tempinho, faço uns desenhos.

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