Preço x Qualidade: Uma análise de risco.

Você já se perguntou o porque produtos similares no mercado podem ter preços tão diferentes? Afinal, isso têm a ver com as matérias-primas utilizadas? Ou talvez com as marcas estampadas? Bem, as respostas são inúmeras, mas para nós, técnicos das indústrias, a análise pode der resumida a apenas um aspecto:

Qualidade!

Mas não de uma forma simplória, como se qualidade fosse uma aura mágica que envolve o alimento e o torna perfeito. Vamos falar aqui de qualidade real, aquela que acontece nas empresas todos os dias.

Preço x Qualidade
Compro ou não compro?

O preço das coisas

Já que me propus a mensurar o valor da qualidade, é justo antes definir o que é preço. E para falar de preço, precisamos entender como funciona a economia fundamental.

Todo preço é definido por uma análise de demanda x oferta. A demanda é o quanto as pessoas desejam consumir um produto. A oferta é o quanto deste produto está disponível para o consumo.

Se um produto possui a oferta maior que a demanda, seu preço tende a cair. Do mesmo modo, se sua demanda é maior que a oferta, seu preço tende a aumentar. Por isso coisas raras, como o ouro, tem preço elevado, enquanto coisas abundantes como o ar que respiramos, sequer tem preço.

Preço x Qualidade
Você já deve ter visto uma curva parecida com essa. Neste link você poderá entender um pouco melhor sobre a construção de preços.

Isso porém não quer dizer que os preços das coisas sejam absolutos. Em cidades muito poluídas, por exemplo, um purificador de ar tem um grande valor, pois as pessoas buscam por ele. Neste cenário, o ar puro começar a ter preço, pois não é tão abundante mais.

Da mesma forma, se descobrirmos uma mina com ouro infinito, imediatamente ele perderá seu valor. Então, em uma análise bem grosseira, o preço das coisas é definido pela sua raridade/escassez.

Definir um valor na prática

Vamos fazer um exercício mental bem simples. Suponha que você tem uma horta de tomates. Faça a colheita de todos os tomates e anuncie na feira por R$2500,00 o kg. Quantas pessoas você acredita que irão compra-los?

Convenhamos, se alguém comprar um único tomate neste valor, ou ele está desesperado por tomate, ou você tem os últimos tomates mágicos da face da terra. Ao passar três horas na feira sem nenhum cliente, naturalmente você vai começar a abaixar o valor, até que um abençoado faça uma compra.

Da mesma forma, se você colocar os tomates a R$0,35 o kg, vai ter uma fila tão grande e seus tomates vão acabar tão rápido que você vai, naturalmente, aumentar o valor. Quanto irá aumentar? Até o ponto em que o movimento na barraquinha seja adequado, nem um deserto, nem uma multidão.

Então você está me dizendo que o preço de uma coisa é definido no teste?

Não é assim também. Existe toda um cálculo por trás disso, que ajuda a definir o preço correto, mas no fim das contas, é o consumidor quem vai dizer se o valor é correto ou não.

Não é apenas o vendedor quem define o valor. O preço correto é aquele que as pessoas acham justo pagar.

Tá, mas onde entra a qualidade?

O preço da qualidade.

Vamos continuar nos tomates. Suponha que você mantenha o preço de mercado, de R$12,00 (um absurdo, mas ainda assim, atrelado à demanda x oferta). Mesmo neste preço padrão, o seu vizinho vende bem mais que você.

Ao investigar, você vê que os tomates dele estão sempre frescos, sem manchas ou pragas enquanto os seus estão do jeito que você colhe, sem nenhum tratamento. Neste ponto, você tem duas opções:

1 – Abaixar o preço para que as pessoas voltem a comprar, ou;

2 – Começar a selecionar apenas os tomates mais bonitos para a venda.

Não existe um caminho correto aqui. A única certeza é que você precisa vender, pois se sobrarem tomates ao fim do dia, eles vão estragar.

A etapa de seleção é uma etapa adicional no processo, que gera custos, até pelo descarte dos tomates ruins. Mas ao mesmo tempo, dá uma garantia ao consumidor de que aquele tomate não será perdido ao chegar em casa.

É uma etapa de controle de qualidade.

Se você não o faz, quem deverá fazer a seleção é o próprio consumidor. É um trabalho a mais para ele que só vale a pena se o preço pago for menor. O tomate do vizinho poupa o tempo gasto e a decepção por ter que descartar algum tomate que ele já tenha pago, por isso vale a pena.

Alguém tem que realizar o trabalho, de uma forma ou de outra. Produzir um bem não é apenas agregar valor, mas sim qualidade.

Percepção de risco.

Gosto de avaliar o impacto da qualidade e até mesmo definir o nível de qualidade de um produto, e consequentemente seu preço, é por meio da percepção de risco.

Risco pode ser entendido como a chance, ou probabilidade de algo não sair como o esperado.

Perceba nosso próprio comportamento ao ir ao supermercado. Geralmente compramos as mesmas marcas, principalmente dos produtos que mais gostamos. E fazemos isso porque temos aversão ao risco.

Seja o risco de passar mal, ou mesmo de não gostar do que vai comer.

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Porque trocar o certo pelo duvidoso, não é mesmo?

Eu tenho até uma pequena lista de restaurantes que não visito mais. Uma experiência ruim já é o suficiente para querer evitar outras com o mesmo estabelecimento ou marca.

Quando uma pessoa compra um alimento, ela espera algo. E nosso trabalho nas indústrias é basicamente impedir que ela se frustre. Não está relacionado apenas à segurança do alimento. Engloba todas as características.

Quanto maior a “certeza” de estar comprando aquilo que corresponde à nossa expectativa, maior o valor percebido. Claro que essa análise só funciona com produtos similares, mas ajuda a entender um pouco das diferenças entre produtos com a mesma proposta.

Qualidade tem a ver com confiança, com uma avaliação de risco inconsciente que fazemos a cada compra.

No fim das contas, a qualidade é um bem escasso, daí sua importância e seu valor em uma cadeia de produção.

E como posso usar esta informação?

Perceba a importância da gestão de qualidade dentro de uma indústria. Ela engloba tudo, todos os setores, colaboradores e impacta em todos os aspectos de um alimento, até mesmo no preço do produto na gôndola.

Lógico que existem outros fatores que impactam no preço, como a disponibilidade, distribuição, marketing, branding, atendimento ao cliente, etc… Porém, tudo isso, ainda não é qualidade?

Como profissionais da indústria, precisamos ter um olhar focado nesta qualidade, não apenas pensando no funcionamento da empresa, mas sim no cliente, aquele que estamos atendendo, em primeiro lugar.

Alguém confia no produto que você ajuda a produzir.

Essa visão ajuda a entender em que direção devemos propor as melhorias no processo e nos produtos. Hoje é muito forte nas empresas a “redução de custo”, devido à crise global, que diminuiu o poder de compra das pessoas, porém será que este é o único caminho?

Essa redução de custo significa aumentar o “risco de compra” para o consumidor? Se sim, algo deve ser repensado.

Mas diz ai, como você enxerga a qualidade em uma empresa? E como você emprega isto no seu trabalho?

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Paulo Henrique Rodrigues Júnior
Paulo Henrique Rodrigues Júnior

Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa. Atuo no setor de P&D e Processos na indústria desde 2015.
E desde então vivo um caso de amor pelos Processos Industriais. E quando sobra um tempinho, faço uns desenhos.

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