Não seja um cemitério de ideias!

Todos os dias milhares de ideias surgem nas empresas em que trabalhamos. Seja para um novo produto, facilitar uma tarefa, reduzir despesas ou para tornar o ambiente de trabalho mais divertido. E todos os dias, milhares destas ideias morrem.

O que acontece com a indústria de alimentos (e outros ambientes corporativos) que ela acaba se tornando um verdadeiro triturador de ideias?

Será que podemos fazer algo para mudar este cenário?

Cemitério de ideias
Representação para um cemitério de ideias.

Um misto de sensações

Você com certeza já deve ter passado por algo parecido:

Está ali quebrando a cabeça para resolver um problema. Nada do que você pensa se encaixa na solução. Ninguém consegue dar uma sugestão efetiva. Até que, como se fosse mágica, as peças se encaixam na sua cabeça.

É o princípio de algo. Uma empolgação toma conta do seu corpo. De repente, tudo começa a fazer sentido. “Caramba, eu tive uma ideia!

Você chega quase a gritar um “Eureka“!

Mas em tom moderado, fala: “E se a gente fizer assim…”

Ao terminar a explicação, as coisas começam a mudar.

Surgem perguntas e mais perguntas sobre o que você acabou de falar. O problema até parecer ter aumentado de tamanho. A empolgação da lugar à apreensão.

“Será que não entenderam? Será que eu me enganei?”

Isso quando não vem logo de cara uma resposta negativa e as vezes depreciativa.

“Isso não vai dar certo.”

“Não é assim que funciona.”

“Não adianta nem gastar tempo com isso.”

E o que vêm a seguir? Frustração.

Mas e ai, será que a ideia proposta foi tão ruim assim?

Um tribunal de ideias

É difícil dizer com precisão se uma ideia é ruim ou boa enquanto ela está em nossa cabeça. Isso porque nós não sabemos de tudo. As ideias são associações que fazemos com base em nossa vivência.

Eu posso dizer que é uma boa ideia tirar mel de uma colmeia silvestre. Cinco minutos depois eu mesmo vou estar julgando ser uma péssima ideia, enquanto tiro os ferrões das abelhas do corpo.

Cemitério de ideias
Pensando bem, talvez não tenha sido uma ideia tão boa assim.

Só a partir de agora, eu teria ciência de que a primeira ideia foi bem ruim. Mas para alguém que não saiba do risco, a ideia continua sendo boa.

Da mesma forma, nós julgamos as ideias alheias com base em nossa experiência. E isso cria um viés.

A tendência é que sempre acreditemos que nossas ideias são muito boas, pois é tudo o que conhecemos. Da mesma forma, as ideias dos outros serão sempre duvidosas aos nossos olhos, pois estão além do que sabemos no momento.

Quando seu chefe corta o seu barato, ele entende pela experiência dele que aquilo pode dar errado. E o curioso é que ele pode muito bem saber muito sobre aquele assunto, como pode não saber nada.

E isso explica muito o porque as empresas são cemitérios de ideias. Sempre que eu tenho uma ideia (boa ou ruim), ou ela já foi testada e fracassou, ou não será testada pelo medo do fracasso.

Porém nós também contribuímos para que a balança penda para o “NÃO”.

Principalmente no inicio de carreira nossas ideias serão, na maioria das vezes, ruins ou mal elaboradas. O que é natural, pois nos falta experiência.

Como evitar.

Antes de mais nada, eu não acredito que toda ideia deve ser considerada.

Convenhamos, boas ideias com ótimas intenções podem até destruir uma empresa. Definitivamente, deve haver um filtro para as ideias ruins.

Contudo, este filtro não deveria ser algo como um juiz que sentencia as ideias dos outros à morte. E isso é o que mais acontece.

Falo isso como um dos maiores coveiros de ideias. Eu sempre reclamei dos meus gestores que não ouviam minhas opiniões, mas fazia igual com os outros, sem perceber a hipocrisia.

O problema é que quanto mais frustrações vamos acumulando por não sermos ouvidos, menos sugestões vamos dando. Quanto mais você inibe as ideias dos seus subordinados, menos eles vão falar. Nesse tipo de ambiente é difícil desenvolver um bom trabalho.

Mas como resolver essa questão?

Enquanto gestor.

Direcione as ideias para uma construção conjunta.

Acredito que o caminho seja transformar as ideias, ao invés de suprimi-las.

Nenhuma ideia está pronta quando te apresentam pela primeira vez. É só uma ideia, não uma tese de doutorado. Ao invés de encher o coitado de perguntas, faça complementos.

Se a ideia não for boa, pontue as falhas e oriente. Você não será o assassino da ideia. Pelo contrário, será o educador e fomentará uma nova ideia, dessa vez no caminho correto.

Esteja realmente aberto a ouvir.

Em qualquer conversa, gostamos que as pessoas prestem atenção no que estamos dizendo. Da mesma forma, devemos respeitar a fala dos colegas.

Por mais mirabolante que seja a ideia, ouça com atenção. Esteja realmente interessado. Isso ajuda inclusive a direcionar a solução do problema.

E outra, esteja disposto a estar errado. A outra parte pode saber mais que você naquele assunto.

Os motivos importam.

Confiança é essencial entre os membros de uma equipe. E a sinceridade é um fator chave.

Não dê respostas vazias. Explique os motivos.

Se uma ideia não é adequada, diga o porque. As pessoas não gostam da resposta padrão “Não é assim que funciona” ou “Já tentei e não deu certo”. Explique por exemplo quais foram os resultados que você obteve quando tentou.

Quem sabe assim essa pessoa não te dá exatamente a ideia que faltava para sua ideia anterior funcionar?

E enquanto subordinado?

Não se apegue as ideias.

Ao expor uma ideia ela pode não sobreviver. E tudo bem, pois como vimos, pode ser mesmo uma ideia mal elaborada. Novamente, esteja disposto a estar errado.

Mas mesmo para as grandes ideias, existe uma grande chance delas já terem sido usadas. Você pode ser muito bom no que faz, mas isso não quer dizer que ninguém tenha tido a mesma ideia antes.

Se for uma ideia realmente valiosa mas que não foi dada a devida atenção naquele momento, guarde-a para si. Anote em algum lugar, se possível. Um dia você pode precisar.

Não leve ideias ainda no berço.

Teve a melhor ideia da sua vida para resolver um problema crônico na empresa Amadureça em si mesmo a ideia antes de apresentá-la.

Aqui é a vida real. As pessoas recusam projetos completos! Será que vão dar ouvidos a algo que aparenta ser um mero palpite?

As ideias precisam ter corpo o suficiente para não morrer de primeira. Leve dados e opiniões que deem suporte ao seu ponto de vista.

Envolva a equipe na solução do problema.

Não é hora para orgulho. Todos devem se sentir parte importante na resolução do problema, incluindo o seu chefe. Sua ideia não precisa ser sua apenas.

Você pode apenas acender a fagulha e contar com os demais para lapidar o resultado.

Como o conhecimento se limita à experiência individual, unir mais experiências é uma boa forma de encontrar uma solução mais assertiva. Por isso a multidisciplinaridade é tão importante.

Não busque a “nova roda”.

A lata de lixo das empresas está cheia de ideias fantásticas: Produtos super inovadores, equipamentos altamente tecnológicos e processos de dar inveja à N.A.S.A. Grandes ideias que sequer foram escritas no papel.

Ideias disruptivas têm muito mais resistência do que ideias mais simples, justamente porque os demais não estão acostumados.

A inovação e a criatividade não existem apenas nas coisas mais diferentonas que você vê por aí. Não tem a ver apenas com quebrar um padrão do mercado. Você pode inovar nas pequenas coisas.

Quanto mais ideias você conseguir colocar em ação, mais confiança terá para liderar projetos cada vez maiores.

Cemitério de ideias
Nenhuma ideia nasce pronta. As vezes é preciso tempo para que ela tome forma.

Em resumo, meu intuito aqui não é dizer que um bom ambiente de trabalho é aquele que todas as ideias são utilizadas, nem mesmo um local onde todo dia surge uma ideia legal.

Mas um ambiente onde as pessoas têm medo de falar para não serem repreendidas, definitivamente não é saudável. Nem para a empresa nem para você.

Não cultive esse cemitério!

Paulo Henrique Rodrigues Júnior
Paulo Henrique Rodrigues Júnior

Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa. Atuo no setor de P&D e Processos na indústria desde 2015.
E desde então vivo um caso de amor pelos Processos Industriais. E quando sobra um tempinho, faço uns desenhos.

Para mais conteúdos, me segue no Instagram :)

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