Dentre os diversos atributos desejáveis para um colaborador em uma empresa, um dos que estão na moda, por assim dizer, e a chamada visão, ou atitude de dono. Seria aquele funcionário que trata a empresa como se fosse sua, com todo zelo.
Esse colaborador com senso de dono seria extremamente positivo para a companhia, pois ele busca sempre o crescimento da organização. Afinal, “o que é da gente a gente cuida”.
Já vou dizer de cara. Eu não concordo!
“- Mas como assim Paulo Henrique? É você que vive aqui dando insights sobre alcançar resultados, melhorar a empresa e tudo mais. Estou chocada (o)!”
Não pretendo ser polêmico aqui (Ou não). Mas eu queria deixar uma visão um pouco diferente sobre esse assunto.
O que é ser dono?
Como de costume, vamos começar definindo o que é ser dono.
Dono é aquele que tem a posse de algo. No caso da empresa, é a pessoa a qual ela pertence.
Podemos também definir o dono como aquele que tem o controle da empresa. O responsável. Mas não tem nada sobre ser zeloso ou cuidadoso aqui. Tão pouco o dono é, por definição, alguém que busca o crescimento de sua posse.
O dono não precisa, inclusive, ter nenhuma característica, pré-requisito ou atributo para ser dono. Ele pode ser tanto o senhorzinho que começou a empresa do zero vendendo café na feira, quanto um cara que ganhou na loteria e resolveu comprar uma fábrica.
Imagine você que a visão dos dois tipos de dono acima podem ser bem diferentes.
O que quero dizer é que o dono de uma empresa não precisa sequer saber o que a empresa faz. Nem sequer precisa ser um bom líder.
“- Ah, mas o dono quer sempre o melhor para o seu negócio. Essa é a essência de ser dono”
Verdade. Mas querer o melhor não é uma atitude do dono. Essa é só a intenção dele.
E não há nada de errado com isso. A questão é que a intenção não é parâmetro para nada. Já vi muitas boas intenções virarem resultados catastróficos, tanto em uma fábrica, quanto na vida.
Querer algo é importante, mas não é suficiente.
A visão “limitada” de dono
Os donos das empresas usam o lucro como forma de medir o sucesso de seu negócio. Não há nada de errado com isso. O problema é olhar apenas para o lucro, como se ele fosse o único indicador da empresa.
Olhar apenas para o lucro faz o negócio ser menos lucrativo do que deveria. O que é bastante irônico.
Um exemplo rápido. Empresas que compram equipamentos mais baratos e perdem parte do seu lucro com manutenções e paradas na planta.
E porque o dono faz isso? É porque sua visão é limitada em relação ao negócio. Ele vê tudo de cima, e não de dentro. Novamente, sua intenção é lucrar, mas a ação não atinge seu objetivo.
Não estou querendo aqui demonizar os donos da empresas. Do ponto de vista do processo, eles ocupam uma função vital na organização, de tomada de decisões estratégicas. Só que isso não quer dizer saber o que fazer para obter um melhor resultado.
Não atoa eles se cercam de diretores e conselheiros, cada um em determinado setor.
Alguns exemplos de dono
Esses exemplos são bem específicos para a área de alimentos. Você já viu um dono entrar no setor produtivo da fábrica todo barbudo, sem jaleco, touca ou máscara, só porque era dono? Ou a dona, com seus esmaltes, brincos e anéis?
São literalmente atitudes de dono. Péssimas atitudes, diga-se de passagem.
Dono também pode ser entendido como “eu posso fazer o que eu quiser”. E isso não é exclusivo de empresas pequenas.
As melhores empresas para se trabalhar podem ter os piores donos. E vice-versa.
Ser dono não garante um tratamento adequado de seus pertences.
Pode ser inclusive o contrário. Se você acertar o carro do vizinho ao guardar seu carro na garagem, sou capaz de apostar que vai estar mais preocupado com o arranhão no carro dele do que no seu.
Se eu fosse o dono…
Você já deve ter pensado o mesmo que eu. “Se eu fosse o dono dessa empresa, ia fazer uma porrada de coisas diferentes.“
Então podemos deduzir que o dono atual não está fazendo bem o seu trabalho. Esse pensamento é bem natural, não se preocupe. Ele tem a ver com o que discutimos antes: O dono não está dentro do processo.
Logo você e eu, de dentro, conseguimos enxergar coisas que ele não consegue. E não precisamos ter atitude de dono pra isso. O que precisamos é saber o que fazer para melhorar nossa eficiência.
Então, partindo do pressuposto que se você fosse dono, faria muitas coisas melhores, vamos falar do que você realmente pode fazer melhor agora. E usando uma coisa da qual você já é sua: A competência!
A única coisa da qual nós somos donos em uma empresa é do nosso trabalho.
Dar lucro para a empresa é uma consequência direta de um trabalho eficiente e bem executado. Não tem nada a ver com se sentir dono.
Tem a ver com nosso comprometimento e habilidades. Tem a ver com ser profissional.
Você não precisa ser dono da empresa para dar o seu melhor. Aliás, se você precisar ser dono de algo para ser cuidadoso, aí sim eu vou me preocupar.
O que os recrutadores e empresas por ai querem é um bom profissional, capaz de atingir os objetivos da empresa. Mas ao invés de serem diretos, usam um termo abrangente, impactante, “romantizado”, mas que no final não quer dizer muita coisa.
Porém, essa é só uma opinião diferente sobre esse assunto. Você pode e deve continuar tendo a “visão de dono” que as organizações tanto almejam. Só entenda que isso significa ser o melhor profissional que você pode ser!